terça-feira, 3 de setembro de 2019

Entrevista com o Cordelista Edcarlos Medeiros/Caicó-RN


ENTREVISTA REALIZADA NO DIA 25 DE AGOSTO DE 2019.

1.Qual o seu nome completo, a sua profissão e formação acadêmica?

Meu nome é Edcarlos Medeiros Soares, sou poeta, cordelista e declamador. Tenho o ensino médio completo e comecei a cursar filosofia mas tranquei o curso no terceiro período.

2.Como se deu o seu primeiro contato com a literatura de cordel?

Meu primeiro contato com a literatura de cordel se deu na adolescência com meu avô, ele era romeiro e trouxe do  Juazeiro alguns cordéis e me pediu para gravá-los em um gravador de fita cassete para que ele ficasse ouvindo.


3. Poderíamos dizer que essa literatura lhe auxiliou no processo de formação leitora?

Sim, a literatura de cordel me auxiliou no processo de leitura apesar de que tive um contato na adolescência através do meu avô e só aos trinta anos de idade é que voltei a me interessar pelo cordel, mas com certeza hoje leio bastante cordel e sobre a sua história e isso tem de me auxiliado muito no processo de formação como leitor.


4. Você falou que somente voltou a se interessar pelo cordel aos trinta anos. E como se deu esse momento?

Na escola, no IFRN quando cursei o ensino médio técnico em informática e através de uma professora de língua portuguesa e literatura eu voltei a me interessar pela literatura, eu voltei a me interessar pela literatura de cordel e a partir disso eu passei a declamar e sucessivamente a escrever meus próprios cordéis.

5. Quem ou quais foram suas primeiras inspirações para produzir os seus cordéis?

As minhas primeiras inspirações para escrever cordel foram: Jessier Quirino e logo após Antônio Francisco (da cidade de Mossoró), Chico Pedrosa, Dedé Monteiro, Djalma Mota, Patativa do Assaré, entre outros.

6. A partir de que momento você passou a se considerar um cordelista?

Eu passei a me considerar um poeta cordelista no momento em que eu publiquei o segundo cordel, publiquei um primeiro ainda sem o conhecimento das regras do cordel e após passei por uma oficina ministrada pelo poeta Djalma Mota e coordenada pela pedagoga e poetiza doutora Medeiros através da Associação União do Sobrado,  e depois que eu participei dessas oficinas aí eu escrevi o segundo cordel já com um pouco mais de conhecimento em relação as estruturas poéticas e a partir desse segundo cordel no ano de 2013 eu passei a me considerar um poeta cordelista.

7. Quantos cordéis você já produziu e quais os mais populares entre as pessoas de Caicó?
Já publiquei dez títulos de cordel e já escrevi alguns cordéis por encomenda para datas comemorativas, então ao todo tenho produzido em torno de 16 cordéis. E os mais populares é “Uma professora e uma aluna que queriam ser garotas de programa” e “mais amor na humanidade”, foram os que mais conseguiram atingir o público.

8. Quais os temas que você prefere abordar em seus cordéis?

Gosto de abordar os temas sociais, principalmente referente a vida do povo sertanejo.

9. Você comercializa seu produto ou faz apenas por prazer?

Faço por amor mas também comercializo o meu trabalho, tanto os cordéis que publico como os cds que já gravei que são dois em parceria com o poeta José Fernandes, também ministro oficinas de literatura de cordel e faço recitais.

10. Você lê outros tipos de literaturas para auxiliar no seu processo de construção poética?

Sim, eu leio outro tipo de literatura, contos e também a literatura contemporânea e isso auxilia muito no meu processo de criação, mas também procuro me inspirar nas coisas que observo: elementos da natureza, a vida cotidiana, os problemas sociais, tudo isso também são leituras que eu faço através de observações e que me auxiliam na minha construção poética.

11. Você poderia citar outros escritores cordelistas que você admira?

Dos poetas que eu mais admiro são principalmente Antônio Francisco, Patativa do Assaré, João Batista de Siqueira conhecido como Cancão, mas também me inspiro muito e admiro a poesia daqui do Seridó, poetas como: Djalma Mota, Augustinho Francisco, José Fernandes, doutora Medeiros entre tantos outros.

12. Como você justificaria a importância da literatura de cordel na escola?

A literatura de cordel, principalmente, para o povo sertanejo é de elevada importância na escola porque é através dela que muita gente, no passado, foi alfabetizada e pela cadência musical da leitura da literatura de cordel se torna um processo bem mais fácil e atrativo de fazer os estudantes se interessar por leitura, além dos temas e das orações da literatura de cordel que são muito do cotidiano do povo sertanejo. Acredito que quando você lê algo que você vivencia isso no seu dia-a-dia, a leitura se torna mais atrativa pelo fato de você fazer a leitura e já ir criando imagens a partir do que está lendo porque são coisas com as quais convive. Logo, acredito que a literatura de cordel no processo escolar é algo de suma importância para todos os estados do pais, mas principalmente para o povo sertanejo.

13. Existe alguma técnica ou regra ao se produzir cordel?
Existe sim, a literatura de cordel é feita a partir de regras, e regras muito rígidas, fixas, eu diria, porque ela exige que o poeta que escreve cordel, utilize a técnica da métrica, se o poema for em cinco sílabas poéticas ou em redondilhas menores, ele vá até o fim utilizando essa estrutura. A estrutura de rimas é também muito fixa, se forem em sextilhas às rimas estarão sempre em versos pares e por aí vai. Então existem algumas técnicas de escrever o cordel, seja ele feito em redondilhas menores, que são as cinco sílabas poéticas ou que seja em redondilhas maiores que são as sete sílabas poéticas, em decassílabo, ou um galope a beira mar que são as onze sílabas poéticas, logo, existe várias técnicas de se produzir o cordel e é interessante que a pessoa que se interessa por essa arte pesquise ou procure oficinas, professores ou até mesmo cordelistas que já vem produzindo seu trabalho e procure desvendar essas regras para a partir daí produzir um cordel com qualidade e da maneira que a literatura de cordel pede, que é obedecer a questão da métrica e das rimas para que saia um cordel musical, porque a literatura de cordel é feita para que se leia de forma musical, e se você quebra a métrica e as rimas, ela perde também essa cadência musical.




14. O que você recomendaria para quem gostaria de se tornar um cordelista?

A principal coisa para quem deseja se tornar um cordelista é procurar ler bastantes cordéis, conhecer os autores, os escritores de literatura de cordel, passando pelos antigos, como: Leandro Gomes de Barros, João Martins de Ataíde e também os mais atuais como Patativa do Assaré, Cancão, Antônio Francisco, e também procurar estudar sobre as formas poéticas que são feitas os cordéis para se tornar um cordelista de qualidade, que escreve dentro da métrica, utilizando a cadencia de rimas que a literatura de cordel exige.


15. Você acha que essa arte de fazer poesia de cordel é um dom ou pode ser adquirida a partir da observação de outros artistas?


Eu creio que o poeta nasce poeta, mas essa questão do dom é algo complicado porque a gente pode acabar inibindo outras pessoas que pensem não ter esse dom. Acredito que todas as pessoas podem despertar esse gosto pela escrita e a partir dele conseguir, também, escrever seu cordel, sua poesia. Então é uma mistura de dom com a busca do querer se aperfeiçoar, logo, tem que haver interesse de buscar por parte da pessoa que quer se tornar cordelista.


16. Você se considera apenas poeta cordelista ou repentista também?

Considero-me apenas poeta cordelista, não sou repentista, pois meu trabalho é de bancada, apesar de ser declamador, mas eu não crio poesia de improviso, eu escrevo de bancada e depois decoro para poder recitar meu trabalho.


17- Qual sua intenção ao  produzir um poema com o nome de pó- esia?

A minha intenção de produzir um poema com o título pó-esia na verdade foi fazer um trocadilho com a questão da droga e mostrar que a poesia pode causar um êxtase bem maior que qualquer droga ilícita, só que a poesia é algo que não tem contraindicação e não vai fazer mal a ninguém, ela causa um êxtase, uma sensação de bem estar na pessoa que a produz e por não ter contraindicação seria uma alternativa para as pessoas usam drogas ou que são dependentes de algum tipo de droga, procurar na arte uma satisfação de uma maneira saudável e deixar de lado essa questão das drogas. Então é tentar mostrar a juventude que através da arte, da poesia, da literatura de cordel, ele pode encontrar tudo o que ele busca na droga, de uma maneira saudável e a partir disso se entregar a arte e abandonar essa questão do vício da droga ou de qualquer outra coisa que venha a causar mal a sua saúde.

18. Gostaria de finalizar esse nosso momento com um trecho do cordel que você mais gosta de sua autoria.

Apesar de ser cordelista posso citar um soneto que escrevi e tento passar meu amor pela poesia e pela arte através dele, o qual eu digo:
São quarenta primaveras
 e agradeço a Deus pai
 o milagre desta vida
por poder cumprir sempre a minha lida
 com amor, humildade e muito apreço.
Cada dia para mim é um recomeço
e a batalha jamais dou por perdida,
 pois se às vezes a dor de uma ferida me machuca,
procuro com o tropeço aprender a cair e a levantar
e na queda mais forte me tornar
para poder prosseguir com minha meta
de exaltar a cultura popular
 e se os versos, a nada me levar
já me basta o prazer de ser poeta.

19- Agradeço por nos conceder a entrevista, foi de grande aprendizado.
Espero que possa lhe ajudar e também agradeço por ter me procurado como poeta cordelista e que tenha sucesso no seu trabalho. Muito obrigado.