ENTREVISTA
REALIZADA NO DIA 25 DE AGOSTO DE 2019.
1.Qual o
seu nome completo, a sua profissão e formação acadêmica?
Meu nome é Edcarlos Medeiros Soares, sou poeta,
cordelista e declamador. Tenho o ensino médio completo e comecei a cursar
filosofia mas tranquei o curso no terceiro período.
2.Como se
deu o seu primeiro contato com a literatura de cordel?
Meu primeiro contato com a literatura de cordel se
deu na adolescência com meu avô, ele era romeiro e trouxe do Juazeiro alguns cordéis e me pediu para
gravá-los em um gravador de fita cassete para que ele ficasse ouvindo.
3.
Poderíamos dizer que essa literatura lhe auxiliou no processo de formação
leitora?
Sim, a literatura de cordel me auxiliou no processo
de leitura apesar de que tive um contato na adolescência através do meu avô e
só aos trinta anos de idade é que voltei a me interessar pelo cordel, mas com
certeza hoje leio bastante cordel e sobre a sua história e isso tem de me
auxiliado muito no processo de formação como leitor.
4. Você
falou que somente voltou a se interessar pelo cordel aos trinta anos. E como se
deu esse momento?
Na escola, no IFRN quando cursei o ensino médio
técnico em informática e através de uma professora de língua portuguesa e
literatura eu voltei a me interessar pela literatura, eu voltei a me interessar
pela literatura de cordel e a partir disso eu passei a declamar e
sucessivamente a escrever meus próprios cordéis.
5. Quem ou quais foram suas primeiras
inspirações para produzir os seus cordéis?
As minhas primeiras inspirações para escrever
cordel foram: Jessier Quirino e logo após Antônio Francisco (da cidade de
Mossoró), Chico Pedrosa, Dedé Monteiro, Djalma Mota, Patativa do Assaré, entre
outros.
6. A
partir de que momento você passou a se considerar um cordelista?
Eu passei a me considerar um poeta cordelista no
momento em que eu publiquei o segundo cordel, publiquei um primeiro ainda sem o
conhecimento das regras do cordel e após passei por uma oficina ministrada pelo
poeta Djalma Mota e coordenada pela pedagoga e poetiza doutora Medeiros através
da Associação União do Sobrado, e depois
que eu participei dessas oficinas aí eu escrevi o segundo cordel já com um
pouco mais de conhecimento em relação as estruturas poéticas e a partir desse
segundo cordel no ano de 2013 eu passei a me considerar um poeta cordelista.
7.
Quantos cordéis você já produziu e quais os mais populares entre as pessoas de
Caicó?
Já publiquei dez títulos de cordel e já escrevi
alguns cordéis por encomenda para datas comemorativas, então ao todo tenho
produzido em torno de 16 cordéis. E os mais populares é “Uma professora e uma
aluna que queriam ser garotas de programa” e “mais amor na humanidade”, foram
os que mais conseguiram atingir o público.
8. Quais os temas que você prefere
abordar em seus cordéis?
Gosto de abordar os temas sociais, principalmente
referente a vida do povo sertanejo.
9. Você
comercializa seu produto ou faz apenas por prazer?
Faço por amor mas também comercializo o meu
trabalho, tanto os cordéis que publico como os cds que já gravei que são dois
em parceria com o poeta José Fernandes, também ministro oficinas de literatura
de cordel e faço recitais.
10. Você
lê outros tipos de literaturas para auxiliar no seu processo de construção
poética?
Sim, eu leio outro tipo de literatura, contos e
também a literatura contemporânea e isso auxilia muito no meu processo de
criação, mas também procuro me inspirar nas coisas que observo: elementos da
natureza, a vida cotidiana, os problemas sociais, tudo isso também são leituras
que eu faço através de observações e que me auxiliam na minha construção
poética.
11. Você
poderia citar outros escritores cordelistas que você admira?
Dos poetas que eu mais admiro são principalmente
Antônio Francisco, Patativa do Assaré, João Batista de Siqueira conhecido como
Cancão, mas também me inspiro muito e admiro a poesia daqui do Seridó, poetas
como: Djalma Mota, Augustinho Francisco, José Fernandes, doutora Medeiros entre
tantos outros.
12. Como
você justificaria a importância da literatura de cordel na escola?
A literatura de cordel, principalmente, para o povo
sertanejo é de elevada importância na escola porque é através dela que muita
gente, no passado, foi alfabetizada e pela cadência musical da leitura da
literatura de cordel se torna um processo bem mais fácil e atrativo de fazer os
estudantes se interessar por leitura, além dos temas e das orações da
literatura de cordel que são muito do cotidiano do povo sertanejo. Acredito que
quando você lê algo que você vivencia isso no seu dia-a-dia, a leitura se torna
mais atrativa pelo fato de você fazer a leitura e já ir criando imagens a
partir do que está lendo porque são coisas com as quais convive. Logo, acredito
que a literatura de cordel no processo escolar é algo de suma importância para
todos os estados do pais, mas principalmente para o povo sertanejo.
13.
Existe alguma técnica ou regra ao se produzir cordel?
Existe sim, a literatura de cordel é feita a partir
de regras, e regras muito rígidas, fixas, eu diria, porque ela exige que o
poeta que escreve cordel, utilize a técnica da métrica, se o poema for em cinco
sílabas poéticas ou em redondilhas menores, ele vá até o fim utilizando essa
estrutura. A estrutura de rimas é também muito fixa, se forem em sextilhas às
rimas estarão sempre em versos pares e por aí vai. Então existem algumas
técnicas de escrever o cordel, seja ele feito em redondilhas menores, que são
as cinco sílabas poéticas ou que seja em redondilhas maiores que são as sete
sílabas poéticas, em decassílabo, ou um galope a beira mar que são as onze
sílabas poéticas, logo, existe várias técnicas de se produzir o cordel e é
interessante que a pessoa que se interessa por essa arte pesquise ou procure
oficinas, professores ou até mesmo cordelistas que já vem produzindo seu trabalho
e procure desvendar essas regras para a partir daí produzir um cordel com
qualidade e da maneira que a literatura de cordel pede, que é obedecer a
questão da métrica e das rimas para que saia um cordel musical, porque a
literatura de cordel é feita para que se leia de forma musical, e se você
quebra a métrica e as rimas, ela perde também essa cadência musical.
14. O que
você recomendaria para quem gostaria de se tornar um cordelista?
A principal coisa para quem deseja se tornar um
cordelista é procurar ler bastantes cordéis, conhecer os autores, os escritores
de literatura de cordel, passando pelos antigos, como: Leandro Gomes de Barros,
João Martins de Ataíde e também os mais atuais como Patativa do Assaré, Cancão,
Antônio Francisco, e também procurar estudar sobre as formas poéticas que são
feitas os cordéis para se tornar um cordelista de qualidade, que escreve dentro
da métrica, utilizando a cadencia de rimas que a literatura de cordel exige.
15. Você
acha que essa arte de fazer poesia de cordel é um dom ou pode ser adquirida a
partir da observação de outros artistas?
Eu creio que o poeta nasce poeta, mas essa questão
do dom é algo complicado porque a gente pode acabar inibindo outras pessoas que
pensem não ter esse dom. Acredito que todas as pessoas podem despertar esse
gosto pela escrita e a partir dele conseguir, também, escrever seu cordel, sua
poesia. Então é uma mistura de dom com a busca do querer se aperfeiçoar, logo,
tem que haver interesse de buscar por parte da pessoa que quer se tornar
cordelista.
16. Você
se considera apenas poeta cordelista ou repentista também?
Considero-me apenas poeta cordelista, não sou
repentista, pois meu trabalho é de bancada, apesar de ser declamador, mas eu
não crio poesia de improviso, eu escrevo de bancada e depois decoro para poder
recitar meu trabalho.
17- Qual
sua intenção ao produzir um poema com o nome de pó- esia?
A minha intenção de produzir
um poema com o título pó-esia na verdade foi fazer um trocadilho com a questão
da droga e mostrar que a poesia pode causar um êxtase bem maior que qualquer
droga ilícita, só que a poesia é algo que não tem contraindicação e não vai
fazer mal a ninguém, ela causa um êxtase, uma sensação de bem estar na pessoa
que a produz e por não ter contraindicação seria uma alternativa para as
pessoas usam drogas ou que são dependentes de algum tipo de droga, procurar na
arte uma satisfação de uma maneira saudável e deixar de lado essa questão das
drogas. Então é tentar mostrar a juventude que através da arte, da poesia, da
literatura de cordel, ele pode encontrar tudo o que ele busca na droga, de uma
maneira saudável e a partir disso se entregar a arte e abandonar essa questão
do vício da droga ou de qualquer outra coisa que venha a causar mal a sua
saúde.
18. Gostaria
de finalizar esse nosso momento com um trecho do cordel que você mais gosta de
sua autoria.
Apesar de ser cordelista posso citar um soneto que
escrevi e tento passar meu amor pela poesia e pela arte através dele, o qual eu
digo:
São quarenta primaveras
e agradeço a Deus pai
o milagre desta vida
por poder cumprir sempre a
minha lida
com amor, humildade e muito apreço.
Cada dia para mim é um
recomeço
e a batalha jamais dou por
perdida,
pois se às vezes a dor de uma ferida me
machuca,
procuro com o tropeço
aprender a cair e a levantar
e na queda mais forte me
tornar
para poder prosseguir com
minha meta
de exaltar a cultura popular
e se os versos, a nada me levar
já me basta o prazer de ser
poeta.
19-
Agradeço por nos conceder a entrevista, foi de grande aprendizado.
Espero que possa lhe ajudar
e também agradeço por ter me procurado como poeta cordelista e que tenha
sucesso no seu trabalho. Muito obrigado.